QUERIDO GAY....LGBTQIA+ QUE ODEIA MILITÂNCIA


"Em primeiro lugar, fique tranquilo: Não é meu intuito te convencer a fazer parte da militância. Afinal, a militância (e eu também) luta pela liberdade, liberdade inclusive de não ser militante. Meu intuito, na verdade, é fazer com que você repense seu discurso de reduzir a militância e dizer que tem orgulho de não fazer parte dela ou que ela é negativa para a sua vida e para a vida dos gays e LGBTQIA+ em geral.
Primeiramente, vamos voltar no tempo. Não sei se você sabe, mas o movimento LGBTQIA+, de maneira organizada e institucional, nasceu a partir da revolta de Stonewall(aqui), que aconteceu nos Estados Unidos em 1969. Antes disso, claro, havia outras pessoas que lutavam pelos nossos direitos, haviam grupos de lésbicas e grupos de gays em atividade desde o final do século XIX, mas nada com muita força ou representatividade. O que começou o Stonewall, o que começou a militância, foi um "basta" dado pelos LGBTQIA+ que frequentavam o Stonewall Inn e começaram a jogar tijolos nos policiais. O primeiro tijolo, inclusive, foi jogado por uma drag queen transexual, Marsha P Johnson(aqui).
A partir de então, lentamente, os LGBTQIA+ foram conquistando espaços e direitos. É importante que você saiba que nenhum desses direitos nos foi dado por pessoas cis-heterossexuais. Não houve nenhuma reunião de cis-héteros que disse "Vamos ser legais com os LGBTQIA+? Está na hora de deixarmos eles terem tal direito.". Muito pelo contrário. Todos os nossos direitos são fruto de muita luta.
Muitos policiais já tentaram (e conseguiram) fechar boates para o público LGBTQIA+. A ditadura militar brasileira foi especialmente cruel conosco. Éramos considerados doentes até os anos 80 - até hoje as pessoas trans continuam sendo. Só podemos começar a nos casar em alguns países muito recentemente - e ainda não podemos na maioria deles. E, se você acha que tudo isso está conquistado e o assunto acabou: Há grupos conservadores que continuam tentando nos tirar os direitos conquistados. Há, também, grupos de extermínio para nos agredir e nos matar. E muitas outras coisas ruins. Mas continuamos aí, avançando um pouquinho a cada dia.
Avançamos tanto em algumas questões que, hoje, é possível que você, que diz ter orgulho de não ser militante LGBTQIA+ possa falar isso em voz alta "Sou gay, mas não sou militante". Há não muito tempo, quando você dissesse "Sou gay", não esperariam sequer você terminar a frase na maioria dos lugares para te julgar, te agredir ou se afastar de você sentindo um pouco de nojo. Em alguns lugares ainda é assim, especialmente quando se trata de pessoas trans, LGBTQIA+ gordos, negros e pobres ou gays afeminado.
Você pode dizer que não é militante. Você pode ignorar todas as lutas políticas que travam contra e a favor de você. Você pode viver só pensando em ir para boates, festas e pegações. Você pode ficar recluso em casa e nunca ir a nenhuma parada do Orgulho LGBTQIA+. Você pode dizer que é gay e "não entende tanto mimimi". Mas, se você pode todas essas coisas, é porque houve e ainda há uma militância muito forte.
Você pode não ser militante, mas você, querendo ou não, percebendo ou não, só está aqui graças à militância.
Então, gay....LGBTQIA+ que diz odiar a militância, respeito sua opção de não militar. Mas não diga ter orgulho dela. Não precisa ter vergonha também, basta não ter orgulho, porque não há nada para se orgulhar em optar estar fora de uma luta justa e importante para a garantia dos nossos direitos básicos e fundamentais."
Autoria de Renan WM.
Via Rede Gay Brasil.

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